JORNAL O NÓ CEGO ENTREVISTA: JUAN OJEA
Por Rene Schols
Artista plástico, argentino, atuou intensamente no circuito cultural desde o ano de 1974, quando iniciou sua carreira artística em Buenos Aires, Argentina.
Depois expor suas obras em renomadas salas de exposição, tais como, MAM em São Paulo e Masp atuando como expositor ,organizador e júri da Trienal de Tapeçaria no Brasil , criou o Atelier Linha Cruzada.
Neste período exerceu intensa atividade como professor e criador de tapearias e tapetes artesanais, que muito aportou para o desenvolvimento do design do tapete nacional, criando tecidos para confecções e renomadas lojas de decoração, além de ministrar cursos em centros culturais e acadêmicos da cidade de São Paulo.
Entrevista para o jornal NÓ Cego.
1- Qual seu primeiro contato com a Arte?
De criança tinha um amigo de meus pais ,Paul Klaussman que
morava numa ilha do Delta do Rio Parana,perto de Buenos
Aires,ele pegava o barco de remo e saia pelos rios ,
pintando.Ele pintava paisagens influenciado pelo
impressionismo e uma vez por ano fazia uma exposição numa
galeria de Buenos Aires. Ele me dava oleos e pinceis para eu
brincar.
Talvez seja a influencia mais remota que eu lembre
Ah, com ele aprendi a observar.
2- Como voce chegou aos Teares?
Sempre tive atração pelas técnicas artesanais e a tecelagem
chegou com Ana Foss, artista têxtil Argentina, em 1974.
3- Qual e sua especialidade em Arte?
Basicamente a fibra.Durante muito tempo os artistas utilizaram
da matéria, seja oleo,marmore,etc para representar.A partir
digamos dos anos sessenta a matéria passou a ser o tema em
sim mesmo. A procura de criação de uma linguagem do proprio
material com que se trabalhava. No nosso caso, a criação de uma
linguagem têxtil era fundamental,que acontece com as fibras
comprimindo ,puxando,a agressividade do sisal em confronto
com a suavidade da Lâ
Nas minhas obras sempre explorei o volume,a luz a
interatividade com o espectador
4- Voce participou da Trienal de Tapeçaria. Conte como foi
sua participação e nos de mais detalhes deste evento.
Na epoca da Primeira Trienal de Tapeçaria, no Museu de Arte
Moderna de São Paulo,em 1976, eu vi, mais estava recém
chegando e não me inscrevi.
Na segunda trienal, mandei minha obra a Júri .Fui selecionado
e expus uma obra chamada Convergência. Eram uma serie de
faixas convergentes a um ponto e puxadas por um contrapeso,
que mexendo nele variava a composição.
Ja na terceira Trienal eu trabalhei na organização, junto com
Norberto Nicola e Eva Soban.
Expus Paisagem sem titulo, que era uma instalação.
Participei Hour Concour por fazer parte da comissão
organizadora e do Júri de seleção e premiação.
Na época eu era diretor do Centro Brasileiro da Tapeçaria
Contemporânea.
Além da exposição, importantíssima por ser um encontro da arte
têxtil nacional, inserimos uma mostra de tecidos pré-colombianos,
que de alguma maneira dava referencias a Tapeçaria
Contemporânea.
Lamentavelmente a partir de 1984 o MAM de SP não conseguiu
dar continuidade as Trienais.
5- Quais são os artistas que estão mais próximos de você e
como eles te influenciam?
Eu fui influenciado por infinidade de artistas,mais
particularmente na tapeçaria as influencias da Iugoslava
JagodaBuik e a polonesa Magdalena Abakanowits,no Brasil, sem
duvida Norberto Nicola e JacquezDouchez , os grandes motores
da arte têxtil no Brasil.
6- Você já conhece quais partes de nosso Planeta? Tem
viajado muito?
Bom, percorri toda América do sul, de Terra do Fogo a Equador,
O Chile de Allende, A Bolívia de Torres e o Peru de Velazco
Alvarado. Conheço também Estados Unidos e Europa.
Sinto falta de conhecer oriente
7- Como foi sua experiência no Atelier Linha Cruzada ?
Trabalhei durante 3 anos no Sesc Fabrica da Pompeia,do inicio
do projeto,dando aulas nas Oficinas de Criatividade.Apos isto
tentei desenvolver um produto, a famosa arte aplicada, peças
artesanais que cumpram bem a sua função, que não pretendam
obras de arte, mais com uma concepção estética.
De ai que surgiram os tapetes artesanais da Linha Cruzada.
Na época a referencia era o Kilim, varias pessoas estavam
produzindo tapetes com desenhos de Kilim,que eu sentia não ser
esse o caminho, nãoe que não goste do kilim, mais em geral
,copia... terminavam sendo tapetes sem a força tribal do kilim
e mais caros que os próprios.
Foi então que desenvolvi um tapete adaptando técnicas de
tecelagem como tear com 4 quadros.Era importante conseguir
solidez,por ser um tapete e não uma manta no chão.
Desenvolvi um desenho que tinha muita influencia da
cestaria indígena.
Foi uma experiência que durou uns 6 ou 7 anos.Foi uma boa
experiência.
8- Porquê Atelier do Tatu ? O que o Tatu tem a ver
contigo? Nos fale chegou até ai.
Embora sempre fui urbano, em 1991 senti a necessidade de
estar mais perto da natureza .Foi ai que comprei uma terra ,no
que resta de Mata Atlântica perto de São Paulo,que passou a se
chamar Sitio do Tatu.
Construí uma marcenaria e tenho me dedicado ao design e
execução de moveis.A madeira e outro material fascinante.E
assim que surgiu o Atelier do Tatu.
Porque o tatu? ,bom algum nome tinha que ter, e como tinha
muitas tocas...
9- Se pudesse dizer algo que todo mundo deste planeta
ouvisse, o que diria?
.Uy! Olhando pelas janelas estou vendo 360graus de floresta.
Seria muita prepotência esperar que o mundo me escute dizendo
Preservemos a natureza
Pensemos em como resolver o problema de nosso lixo
Trate aos outros como gosta de ser tratado
Mais posso falar com meus vizinhos
10- Deixe uma mensagem para os leitores do Nó Cego, que
são também sócios do Pequeno Museu da Tecelagem.
.Bom, já por ser leitores e sócios temos muitas coisas em
comum ,o gosto pela tecelagem, a procura de informações.
Nãotem nada mais incrível e paradoxal que em pleno mundo
globalizado,se utilize justamente a Internet, que e um pouco a
ferramenta da globalização para resgatar o artesanal ,técnicas
antiquíssimas e as particularidades regionais.